Autor: Mario Guerreiro
Já faz algum tempo que foi veiculado pela mídia em todo mundo que as fontes de petróleo estavam se extinguindo e tinham uma curta sobrevida.
Essa afirmação era controversa, porque, entre outras coisas, não levava em consideração a possibilidade de novas descobertas de grandes lençóis petrolíferos, como foi o caso da descoberta do pré-sal brasileiro.
Porém, parece que, por via das dúvidas, desencadeou-se em todo mundo uma procura por fontes de energias renováveis, como combustíveis produzidos de matéria orgânica não-fossilizada: o etanol, o álcool, etc.
Foi justamente em virtude dessa escassez de petróleo por questões geopolíticas que a Alemanha inventou o carro elétrico durante a Segunda Guerra e hoje esse carro é produzido em pequena escala nos EEUU.
E recentemente, na França um engenheiro, que trabalhava na Fórmula 1, inventou algo tendo um custo de manutenção menor ainda: um carro movido a ar comprimido, que pode ser reabastecido em qualquer posto de gasolina na mesma máquina de calibragem de pneus.
Mas por que razão ambos os tipos de carro não são produzidos em larga escala? O carro a ar comprimido é invenção bastante recente, mas o carro elétrico é produzido em pequena escala há muito tempo.
O custo de fabricação desses carros não é maior do que o dos carros à gasolina, álcool, etanol, óleo Diesel etc. E seu custo operacional é muito mais baixo do que os daqueles. E, além disso, eles têm ainda a vantagem de ser não-poluentes, só para agradar todo e qualquer ecologista e partidário da economia verde.
Se procurarmos a razão pela qual ele não é produzido em larga escala, poderemos pensar erroneamente que se trata dos interesses econômicos das grandes fábricas de veículos automotivos movidos à gasolina, óleo Diesel, etanol, etc. Mas, como veremos, não se trata disso.
É certo que se essas fábricas tivessem que concorrer com fábricas de carro elétrico e/ou a ar, comprimido, dificilmente aguentariam a competição em virtude dos menores custos de fabricação e operacional e do caráter antipoluente dos seus concorrentes.
E se elas resolvessem abandonar a produção de veículos automotivos convencionais em nome do carro a ar comprimido e/ou elétrico, teriam que mudar quase completamente sua linha de montagem, o que demandaria grandes investimentos com incerteza de retornos compensatórios.
Quando investigamos as razões pelas quais um novo invento, apesar de altamente vantajoso para seus consumidores, não é produzido em larga escala às vezes nos deparamos com seu elevado custo de produção.
O Brasil é um dos países possuidores de grandes jazidas de xisto e poderia se tornar autossuficiente neste combustível

Como são os casos do ouro e do diamante artificiais. O velho sonho dos alquimistas de produzir ouro a partir do chumbo ou de qualquer outro metal transformou-se em realidade hoje, pois não há nenhuma dificuldade técnica de se fazer tal coisa. Hoje podemos fazer ouro em laboratório, assim como fazemos diamantes artificiais com carvão de pedra. Estas coisas só não são feitas em larga escala por um simples motivo: extrair ambos da terra sai muito mais barato.
E apesar das jazidas de ouro e de diamante estarem longe de ser abundantes, seu preço final para seus compradores é muito menos caro do que os de suas réplicas artificiais.
No entanto, se o custo de produção é o responsável pela não-produção em larga escala do ouro e do diamante, o mesmo não pode ser dito do custo de produção do carro elétrico e/ou do carro a ar comprimido, o que nos leva a procurar outro motivo para sua não-produção em larga escala.
É certo que não seria interesse das grandes indústrias de veículos movidos à gasolina, óleo Diesel, etc que o carro elétrico e/ou a ar comprimido viessem a ser produzidos em larga escala.
Mas, pensando bem, estas mesmas indústrias, ainda que assim desejassem, nada poderiam fazer para impedir a concorrência no mercado com indústrias alternativas ao combustível orgânico.
A não ser propaganda negativa – coisa de difícil aceitação do público-alvo, dadas as reconhecidas vantagens do carro elétrico. Sendo assim, voltamos a perguntar: O que as impede de realizar sua produção em larga escala?
Já ouvi dizer que o grande empecilho para o aumento da produção é que os carros elétricos não teriam grande aceitação dos seus possíveis compradores. E isto porque eles se mostram incapazes de desenvolver uma velocidade superior a 60 km por hora e que sua bateria tem curto tempo de duração exigindo frequentes reabastecimentos.
Supondo que essas informações sejam corretas e que essas desvantagens não tenham sido superadas tecnicamente, ter-se-ia um fator altamente desestimulante para seus compradores, num mundo em que tempo é dinheiro e já estamos habituados às velocidades muito superiores dos antigos veículos movidos à gasolina, óleo Diesel, etanol, etc.
Tivesse sido o carro elétrico inventado no século XVII e ele seria muito mais veloz do que as antigas carruagens e teria sido um bom exemplo da destruição criativa de que falava Schumpeter.
Neste mesmo século, o filósofo e matemático Blaise Pascal inventara uma máquina de calcular mecânica. Perguntaram imediatamente a ele se sua máquina era capaz de fazer as mesmas contas que um homem com pena, tinta e papel. Pascal respondeu que sim, mas com a vantagem de que ela era mais rápida.
Seus contemporâneos teriam ficado entusiasmados com o carro elétrico – mesmo que ele desenvolvesse apenas 60 km por hora – porque o comparariam com a velocidade das carruagens da época.
Mas talvez não tivessem ficado nem um pouco entusiasmados com a máquina de Pascal, porque a compararam com um calculador desarmado e não viram nenhuma vantagem em relação a ele. Hoje um exemplar da referida máquina está exposto num museu em Paris.
Talvez porque a maior velocidade não tinha tanta importância para os que faziam contas nas escolas e no comércio, mas seria um grande atrativo para quem fizesse longas viagens a trabalho ou a lazer.
Mas o carro elétrico não foi a única alternativa para o carro movido à gasolina, óleo Diesel, etc. Há algum tempo, os EEUU estavam pesquisando outros combustíveis alternativos e descobriram que o petróleo e o gás poderiam ser extraídos do xisto a um custo compensador.
Tal como o carro elétrico, o carro movido à gasolina extraída do xisto ainda é produzido em pequena escala. Mas não só há sinais de que sua produção está crescendo, como também de que as abundantes jazidas de xisto permitirão os EEUU se tornarem autossuficientes neste combustível talvez em médio ou longo prazo.
Podem até passar da condição de os maiores importadores de petróleo do mundo à de um dos maiores exportadores de xisto bruto, gasolina e gás extraídos do mesmo.
Suponhamos que isso realmente aconteça e surgirão inevitavelmente mudanças radicais na geopolítica do petróleo.
Os países árabes e a Venezuela, verdadeiras monoculturas do petróleo – sua única mercadoria de exportação, que vendem até para poder comprar comida – sofrerão uma crise mais aguda do que a Grande Depressão dos terríveis anos 30.
As consequências dessa crise seriam imprevisíveis. Talvez só não seja tão atingido por ela Dubai (Emirados Árabes), que há bastante tempo criou uma indústria de turismo de luxo, com seus hotéis mais imponentes e requintados do que qualquer hotel europeu e/ou americano.
Mas o que aconteceria com a Arábia Saudita, o Iraque, o Kwait e a Venezuela de Chávez, um pais muito pobre, mas que é o sexto exportador de petróleo bruto do mundo?! Quais seriam os efeitos desses países perderem seu maior comprador e outros que passariam a comprar xisto dele? Ficariam na miséria?
Não necessariamente, pois contariam ainda com um grande comprador: a China, supondo que esta mesma não contasses com grandes jazidas de xisto, coisa que não sabemos dizer se ela possui ou não.
Quanto ao Brasil, ele é um dos países possuidores de grandes jazidas de xisto e poderia se tornar autossuficiente neste combustível. Haveria apenas uma pequena mudança: em lugar da Petrobras surgiria a Xistobras, e o antigo refrão sofreria apenas uma pequena mudança: O xisto é nosso!
Extraído do site do Instituto Millenium




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